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" Conversas sem ferrolho !!!? ": março 2007 *
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-  Edição de 31 março, 2007 -

 

« Amar um " filho " , sem ser pai ... »

. »

.Talvez seja um blog romance .
.
Continuação. .


( XV Parte )
. .

......A luz ténue do candeeiro a petróleo, iluminava os rostos do seu pai e da sua mãe . Por momentos , Vera , ficou hipnotizada a contemplar o seu pai ... Nunca o vira assim . As lágrimas , uma a uma , escorriam-lhe pelo rosto , de lenço na mão , secava-as e fungava baixinho . A sua mãe , vendo a emoção do marido , também se emocionou ... Ali estava algo , que ela nunca tinha suposto ver , o seu pai em casa de Chico , admirando o seu rebento . As voltas que a vida dá ... ( pensou ela ) .
No alpendre , os presentes , comentavam o estado do velho Justino , o tipo de pessoa que até à dias atrás ele era , a reviravolta , os tremores .
Ao Custódio , o que mais o intrigava , era o facto de o ter encontrado sentado de um lado do adro interior da ermida , e a garrafa de vinho poisada do outro lado , intacta ... Estaria o pai a tentar deixar de beber , seria devido aos avisos do cabo da Guarda , seria pelo nascimento do neto , ou seria tudo junto . E o orgulho que teve de engolir para vir a casa de Chico ver o neto . Para ele , conhecendo o pai , era tudo muito estranho ...
Chico ouvia as conversas , mas embrenhado nos seus pensamentos , caminhou até à ponta do alpendre , ainda não vira a sua amada , porque ela após ter amamentado o seu filhote adormecera , e ele não a quis incomodar ... tinha o dom de ser paciente , e com tempo há tempo para tudo ( pensou ele ) .
O luar era tão intenso que parecia dia , no silencio da noite campaniça , ao longe , do lado do centro da aldeia , ouviam-se os cantares alentejanos . Após mais um dia de trabalho no campo , os homens enchiam as vendas e adegas e ali relaxavam . Do lado dos campos , o familiar piar da coruja , que na sua ronda nocturna , se fazia ouvir ...Envolto de nostalgia , sentou-se nas escaleiras e olhou de novo a lua , à memória vieram-lhe uns versos , que em pequeno , o seu falecido pai lhe costumava recitar , naquele mesmo lugar ... .
. .....................

......................."" Minha Lua Campaniça "
.

.................................Meu olhar discreto
.................................Meu puro sentimento
.................................Meu amor tão perto
.................................Neste meu firmamento
.................................Passeias beleza
.................................Sigo-te com o olhar
.................................Irradias pureza
...............Não consigo parar
...............De dia não és tão bela
...............No escuro perco-me a contemplar
...............Na noite és a vela
...............Que ilumina o meu passar
.................................Tanto és crescente
.................................Como és minguante
.................................Tanto és cheia e reluzente
.................................Como nova e deslumbrante
.................................Meu olhar discreto
.................................Meu puro sentimento
.................................Meu amor tão perto
.................................Neste meu firmamento


...........Chico suspirou , e olhando para o céu fez as suas preces ( estejas onde estiveres , nunca te esquecerei meu Pai [ pensou ele ] ) . E ali continuou sentado , inspirando o cheiro campaniço , que a brisa nocturna teimava em transportar ...
Entretanto no quarto , Dona Filomena apercebeu-se que a filha acordara , e que os olhava enquanto admiravam o neto . Silenciosamente , para não acordar a novidade , aproximou-se do leito da filha , poisando o candeeiro na banquinha de cabeceira , falou baixinho :
- Acordámos-te filha ? ( perguntou ela ) .
- Foi apenas o instinto de mãe , que me alertou . ( respondeu Vera no mesmo tom ) .
O velho Justino , dando conta que sua filha tinha acordado , tratou de se compor , rapidamente secou as lágrimas , e olhou intensamente para a filha .
Vera estendeu a mão para o pai , pedindo que se aproximasse .
Justino , pé ante pé , para que as cardas das botas não acordassem o rebento , foi ao encontro da filha , trémulo segurou-lhe a mão . Vera olhou o pai nos olhos e falou em tom baixo :
- A sua bênção meu pai ...( pediu ela , ao seu progenitor ) .
Justino novamente emocionado , mas contido , apertou suavemente a mão da sua filha , e soltou docemente as palavras :
- Que Deus te abençoe ... minha filha , a ti e ao teu pequeno rebento , que me fez avô ... ( respondeu Justino ) .
Agora visivelmente emocionado , largou a mão da filha , e rapidamente saiu do quarto , de lenço na mão e secando os olhos , tomou a direcção do alpendre ...


Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

..

O poema " Minha Lua Campaniça " , também é de minha autoria ..

Moinante = A.J.S.B. .

Continua brevemente ..

.

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-  Edição de 24 março, 2007 -

 

« Amar um " filho " , sem ser pai ... »

..
Continuação. .

...
( XIV Parte ) .

...
.........
........As mãos suadas tremiam ... Justino , de cavalinho de cortiça na mão , avançou trôpego até ao portão , parou de novo ... Ajeitou o chapéu , num movimento lento levou a mão até à aldraba , agarrou-a com tanta força como se a vida lhe estivesse a escapar , e ela fosse a sua única salvação .
......Custódio , com a intrigante garrafa de vinho debaixo do braço , olhava serenamente todos os movimentos do pai , e tentava imaginar o turbilhão de pensamentos que iam naquela cabeça ...
Subitamente , o homem rendido à ansiedade de ver o neto , encheu o peito de ar e bateu com força três vezes ...
Chico , que entretanto descera até ao fundo do quintal , para amanhar a pilha de lenha , estranhou tal batida ...
Nestas pequenas aldeias , por hábito , as pessoas abrem a porta do portão de quintal , e bradam pelos nomes das gentes da casa , o que não foi o caso .
Chico dirigiu-se ao portão ... e abriu a porta . Para seu espanto , encarou com o velho Justino de cabeça baixa e de cavalinho na mão , como se fosse um pedinte ... Olhou para ele e estremeceu , olhou para Custódio , e os seus olhos brilhavam ...
Dona Filomena, no alpendre junta aos que ali se encontravam , ao ver o seu marido , louvou aos céus agradecendo , o seu Custódio conseguira trazer o pai , olhou para Dona Anacleta , e ela esboçou um sorriso ...
Chico , lembrou-se do que prometera ao amigo , arredou-se para o lado , e fez o convite :
- Então , não entram , ou preciso de os laçar ?? ( perguntou Chico , piscando o olho ao Custódio ) .
- Vá , vamos ... ( disse Custódio , dando um ligeiro toque nas costas do pai ) .
O velho Justino entrou devagar , olhou para o Chico de soslaio , sentindo-se intimidado ... Não admira , depois de tanto ter atentado contra o rapaz , agora via-se obrigado a vergar pela força das circunstancias , afinal de contas ele salvara a sua filha e o seu neto , o destino assim o quis . Mas , neste comportamento , também havia um pouco do dedo do cabo Rosa , e dos avisos que ficaram entre as paredes do posto .
Justino , foi avançando receoso , as pernas tremiam , mas caminhou . Custódio seguiu-lhe os passos , Chico depois de fechar a porta fez o mesmo . Chegado ao inicio das escaleiras do alpendre parou , olhou as pessoas uma a uma e tirou o chapéu , o filho dando-lhe novamente um toque nas costas , incentivou-o a subir :
- Vá arriba , ou desistiu agora . ( disse-lhe o filho ) .
Com um pouco de custo , Justino subiu até ao alpendre , tendo sido logo acercado pela mulher :
- Onde tens andado homem ?? ( perguntou dona Filomena ) .
O marido nada disse , apenas mostrou o que trazia na mão ... Um cavalinho de cortiça , o que despertou olhares de admiração entre os presentes ...
A noite instalara-se , a ligeira brisa que corria afugentava um pouco do calor tórrido de Agosto , nas árvores ouvia-se a passarinhada à procura de poleiro para pernoitar , num chilreio tão característico .
Chico acendeu três candeeiros , sem hesitar deu um a Dona Filomena ... Ela pegou no candeeiro e arrastou o marido para dentro de casa falando baixinho :
- Não faças barulho , que eles estão a dormir . ( disse Dona Filomena , quase a segredar ) .
Caminhando devagar , para o cardado das botas não fazerem barulho , Justino deixou-se levar . Entraram no quarto , e a luz ténue do candeeiro anunciou a novidade ... Era lindo , os olhos do velho Justino alagaram-se , com muito jeitinho e a tremer , pousou o cavalinho de cortiça encostado à aba da alcofa próximo à cabeça do neto , depois tirou o lenço do bolso e secou os olhos , ali ficou a olhar perdido no tempo , como se fosse a primeira vez que visse um recém nascido ... Os olhos alagavam-se de novo e sem querer soltou um sumido gemido de choro ...
Vera , sentindo a presença de alguém acordou ...


.Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

.Moinante = A.J.S.B.

.Continua brevemente ..


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-  Edição de 17 março, 2007 -

 

" PATER DEDICATU "

.
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.......Aproximasse o " Dia do Pai " , juntando o útil ao agradável , hoje faço um duplo post . No qual inicio com umas quadras por mim elaboradas , e dedicadas : a quem me fez pai ( à minha filha Beatriz [ sete anos ] ) , e a todos os pais biológicos e não biológicos , por este imenso mundo espalhados ...
Concluo , com a edição de mais um episódio do romance , que tenho vindo a publicar , que se enquadra , perfeitamente , na data que se avizinha ...
..
.

................................." Ser pai ... "

...
.................................Vi-te pequenina
.................................Tamanho de feijão
.................................Meu sonho era uma menina
.................................No meu coração

.................................Deste-me alegria
.................................Em sonho também
.................................Foste o que pedia
.................................No ventre da Mãe

.................................A seis de Junho
.................................Nem queria acreditar
.................................Maior que um punho
.................................Só sabias chorar

................................Dos meus olhos és a luz
................................A surpresa do teu aparecer
................................Pois nunca supus
................................Que te viesse a ter

................................Vi-te pequenina
................................Tamanho de feijão
................................Meu sonho era uma menina
................................No meu coração ...
.
...........................Obrigado filha , por me teres feito pai ...
.
.
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.« Amar um " filho " , sem ser pai ...»
.
. »

.Talvez seja um blog romance .

Continuação. .


( XIII Parte ) .


.....Custódio já não sabia o que fazer , correu a aldeia de lés a lés , perguntava às pessoas que encontrava se o tinham visto , e dele nada sabia . Passou mais uma ronda pelas adegas e vendas , podia ser que se tivessem desencontrado , sem nada de novo saber . Antes de regressar a casa de Chico , passou novamente por casa dos pais , e nada ... Enquanto regressava para junto da irmã , ia pensando na dificuldade que tinha cada vez mais , em entender as manias do pai , naquilo em que as pessoas se transformam , a intolerância e a obsessão , o que o levou a ter tantas atitudes reprováveis ... O dia ia passando , o Sol cansado das alturas já havia começado a descida , à procura do aconchego da Terra . Mas o calor , esse ainda era intenso , e Custódio depois de tanto palmilhar , regressava cansado , preocupado e desiludido .
Enquanto Custódio andava nesta azáfama , em casa de Chico , os trabalhos do parto já tinham terminado . Vera adormecera depois de amamentar o filho , a pequena novidade dormia na alcofa , que aninhara todos os filhos de dona Anacleta .
Chico repunha a água gasta , as mulheres , umas na cozinha outras no alpendre , lavavam e arrumavam os utensílios utilizados no parto . Dona Filomena fazia uma barrela com as roupas da cama de dona Anacleta , quando chegou o seu filho Custódio , escalfado e com cara de caso :
- Então filho , o que é que se passa !? ( perguntou-lhe a mãe , admirada ) .
- Não acho o pai , falei com o Chico se ele podia cá vir ver o neto ... O Chico disse que sim , e eu fui à procura dele , mas não estava em casa , a égua e o cavalo estão lá , já virei a aldeia do avesso e não o encontro ... ( disse Custódio , lamentando-se ).
Dona Filomena ficou pensativa , ele estava em casa quando ela recebeu a noticia , e ele sabia o que se passava , porque ela lhe dissera ... O que o filho lhe disse ficou-lhe a remoer o pensamento . Chico vinha chegando com mais uma carga de água , Custódio foi dar uma ajuda a descarregar os cântaros , era a última viagem que ele fazia , as reservas de água ficavam novamente em ordem . Durante minutos , a mãe de Custódio, pensou e repensou onde poderia estar Justino , até que repentinamente , algo lhe veio à ideia :
- Filho ... ( chamou ela ) .
- Diga mãe . ( respondeu Custódio ) .
- Quando a tua irmã nasceu , aconteceu a mesma coisa , contigo não , ele estava no campo e só soube quando chegou a casa , mas com a tua irmã ele estava em casa , e sem darem conta ele desapareceu , o teu avô Alberto é que foi dar com ele na ermida de Santo António , era para lá que ele em pequeno fugia , quando alguma coisa mais grave lhe acontecia ... pode ser que esteja lá , vai lá ver ... Tenho esse pressentimento . ( disse dona Filomena , ao filho ) .
Custódio nem pensou duas vezes , de novo se fez à estrada ... Atravessou a aldeia de Este para Norte , por atalhos e travessas , rapidamente chegou ao sopé do outeiro , onde se localiza a ermida , ainda tinha de subir uma ladeira empedrada , que termina numa pequena escadaria que dá acesso ao adro interior da ermida . Cá debaixo não avistava ninguém , e a porta da ermida estava fechada ... Aqueles segundos de pensamento , deu tempo para recuperar o fôlego . Sem mais demoras iniciou a subida a bom ritmo , mas quando começou a subir a escadaria as pernas já tremiam . Quando entrou no adro , olhou para o lado direito de imediato , em cima do assento embutido na parede por baixo da grande janela em arco , estava uma garrafa cheia de vinho , olhou para o lado esquerdo , sendo o adro simétrico , estava o pai sentado , de cotovelos em cima nas pernas e de cabeça apoiada nas mãos . O pressentimento da mãe estava certo . Estava estático , nem dera pela sua presença . Porque raio estava ele ali naquela encenação , pensou ele ... Custódio , lentamente avançou até junto do pai e sentou-se a seu lado , o velho Justino sentindo a sua presença , levantou a cabeça olhou para o filho , e voltou à posição inicial . Assim estiveram durante alguns minutos , até que Justino falou :
- Como é que está a tua irmã ?? ( perguntou ele , de voz trémula ) .
- Não está mal , para o que lhe aconteceu ... ( disse o Custódio ) .
- Já temos gente nova ?? ( voltou a perguntar Justino , no mesmo tom ) .
- Sim pai , já é avô ... ( respondeu o filho , sem ter tempo para acabar o que dizia ) .
- E então ... ?? ( continuou ele , sem levantar a cabeça ) .
- É um menino , um valente rapagão ... Vá venha comigo , venha ver o seu neto .( disse Custódio , colocando o braço sobre os ombros do pai ) .
Justino , ergeu-se trémulo , e avançou direito à garrafa de vinho , pegou nela e deu-a ao filho . Custódio pegou na garrafa e ficou a olhar para o pai boquiaberto , enquanto ele descia as escaleiras da ermida , não o estava a reconhecer , o que é que se passava com o velho Justino , não rabiou , não berrou ... Justino chegando ao fim das escaleiras olhou para trás , e voltou a falar :
- Então , o que é que fazes aí especado ??? ( perguntou ele , ao filho ) .
Custódio acordou , desceu apressado para junto do pai , e iniciaram o caminho para casa de Chico , Justino caminhou sem nada dizer ...
Vera e o filho ainda dormiam , o Astro pouco mais tinha para dar , já se sentia uma pequena brisa , que arrastava o cheiro dos campos . Cá fora no alpendre , estavam as mulheres e o Chico , tinham acabado de matar a larica , e conversavam amenamente com algumas visitas , que entretanto tinham acabado chegar .
Para o Custódio e para o pai , a caminhada tinha terminado , Justino em frente ao portão do quintal do Chico estancou , olhou para o chão e assim esteve durante quase um minuto , levou a mão direita ao bolso das calças e tirou um pequeno cavalinho de cortiça , talhado à navalha cortiçeira , voltou a olhar para o portão e assim ficou , estancado ...

.Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência
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Moinante = A.J.S.B.
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Continua brevemente ..

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-  Edição de 10 março, 2007 -

 

« Amar um " filho " , sem ser pai ... »

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Continuação. .

.......................................( XII Parte ) .
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.......O calor abrasador de Agosto começava a dar os seus sinais , nem uma brisa corria . Nas redondezas ouviu-se um asno a zurrar , as cigarras davam o seu mote , aqui ou acolá . O choro pouco mais durou ... não há felicidade maior, do que ouvir o primeiro grito de vida de um recém nascido ... ( pensou o Chico ) .
Ele suava , apesar do filho não ser seu , ele ajudara a que parte disto se realizasse . Nesse instante , entra pelo portão do quintal o patrão Américo , ele também dera conta do choro , subiu as escaleiras até ao alpendre , Chico assomado para o interior da casa , tentava ver o que se passava , nem dera pela presença do patrão , só deu conta quando sentiu uma mão forte no seu ombro direito e ouviu a sua voz , tendo-se voltado repentinamente :
- Então homem , porra que estás branco , até parece que viste um escarapão !! ( disse-lhe o patrão , tentando dar-lhe alma ) .
- Já nasceu , eu ouvi o choro ... ( disse o chico , como se estivesse nas nuvens ) .
- Eu ouvi , e então , é macho ou fêmea ? ( perguntou o patrão ) .
- Não sei , não me deixam entrar !! ( respondeu ele , com alguma admiração ) .
- É normal , para as mulheres esta labuta é só delas , os homens só servem para atrapalhar . Deixa-me cá ver o que se passa ... ( disse-lhe o patrão , entrando pela casa adentro ) ...
A noticia , já se havia espalhado pela aldeia , como é sabido , nestes meios pequenos tudo se sabe quase na hora ... Admiravam o Chico , pelo seu carácter humano , pela sua dedicação e pelo amor por Vera , que nunca escondera .
Tal como Chico foi corrido do interior da casa , ao patrão Américo calhou-lhe a mesma sorte , mas a este foi a própria mulher que tinha ido buscar mais água , correu com ele quase a toque de caixa . Nem tempo teve para perguntar se era gaiato ou gaiata ... Já cá fora no alpendre , desabafou :
- Chiça , bem que tu tinhas razão , para estares cá fora ... ( disse ele , já fora de perigo ) .
- A minha sorte foi a mesma patrão . ( confessou o Chico , com um sorriso nos lábios ) .
- Bem , logo se sabe da novidade ... hoje ficas o resto de folga ... Eu levo a carroça para cima , que ainda tenho frete . Até amanhã . ( despediu-se ele do empregado , que para ele era mais um filho ) .
- Até amanhã Patrão Américo , não sei como lhe agradecer tanta bondade , obrigado por tudo ... ( disse o Chico , com sentimento . Ele sabia que podia contar sempre com ele , porque era um bom homem , apesar de altivo , e também porque ele não tinha razão de queixa de si , enquanto empregado ) .
- Deixa-te de histórias , e agarra a sorte que já te está a sorrir ... ( disse ele abanando-lhe a mão , em jeitos de açoite ) .
Chico , nem tinha fome , a hora de almoço passou , e ele nada comera . O seu pensamento estava lá dentro de casa , mas a garganta seca pedia água , foi até ao poial dos cântaros e bebeu dois valentes cocharros de água fresca ... Enquanto limpava a boca e o suor da cara (devido ao calor da tarde , ao lenço enrolado que tirara do bolso ) , para espanto seu , dona Filomena , bradou pelo seu nome :
- Chico , anda cá , depressa ... ( disse ela em voz baixa ) .
Chico entrou tão apressado , que tropeçou na soleira na porta , quando se endireitou ficou deslumbrado ... O bebé era lindo e rosadinho . Já lhe tinham dado banho , estava envolto numa coberta cor de pérola e dormia . Chico não se conteve :
- É menino ou menina ??? ( perguntou ele com toda a ternura , como se o pai fosse ele ) .
- É um rapagão ... ( disse a avó , de olhos a brilhar , ao mesmo tempo que o destapou por breves momentos para Chico o ver ) .
- E a Vera , como está ela ? ( perguntou ele preocupado ) .
- Está um bocado mal tratada , tem de ficar de cama ainda uns bons dias , mas depressa estará fina , ela é uma rapariga forte . ( respondeu-lhe dona Filomena com convicção ) .
- Posso vê-la ?? ( perguntou Chico ansioso ) .
- Ainda não , estão a acabar de tratar dela , estas coisas levam tempo ... ( disse-lhe a mãe de Vera ) .
Nessa altura , batem à porta da rua . Beatriz , foi abrir . Era Custódio e a sua mulher , que depois de saberem a noticia , largaram os seus afazeres no campo , e para ali se deslocaram ...
Depois dos habituais cumprimentos , entraram , depressa viram o Chico e dona Filomena , ao fundo do corredor , vendo que a mãe tinha algo nos braços , Custódio apressou o passo , indo atrás de si a mulher . A sua mãe estava encantada com o neto nos braços :
- Chiu , está dormindo . ( avisou logo dona Filomena , enquanto o descobria para eles o verem ) .
Odete e Custódio , olharam encantados para o sobrinho . Não tinham palavras , era um rapagão perfeito . Apesar do azar da queda , as coisas tinham tomado bom rumo
- Vá , está na hora de ele ir para a mãe . ( Disse a avó , encaminhando-se para o quarto , a nora acompanhou-a )
Chico e Custódio , encaminharam-se para o exterior da casa . Sentados em cortiços , no alpendre , foram conversando , Chico relatou-lhe os acontecimentos , o que vira , o que fizera , os momentos da sua angustia ...
A dado momento , Custódio colocou-lhe uma questão :
- Chico , gostava que o meu pai visse o neto , mas como está aqui em tua casa ... ( disse Custódio , acanhado ) .
- Isto não é alturas para malquerenças , o homem que venha , que será bem recebido . ( disse-lhe o Chico , demonstrando que os homens mostram-se nestas alturas ) .
Os dois ergueram-se , Custódio deu um valente abraço ao amigo , o que foi retribuído , saindo logo de seguida pelo portão do quintal ... Procurou o pai em casa , e nada , a égua e o velho cavalo estavam na cavalariça , portanto , ele estava na aldeia , na vizinhança ninguém sabia dele , nas vendas e adegas nem sinal . Onde estaria o velho Justino ...
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.Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência
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Moinante = A.J.S.B.
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Continua brevemente ..

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-  Edição de 06 março, 2007 -

 

T.R.L. ( Jamais te esquecerei ) ...

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.A hipocrisia , do monopólio da televisão .
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.......Faz vinte e um anos , mais mês menos mês , mais dia menos dia , que se deram este acontecimentos , que durou cerca de dois maravilhosos anos , da minha vida . Alguns de vós , provavelmente nunca ouviram falar ... Outros , talvez fossem tão pequeninos que nem se lembram . Porém , muitos ainda têm na memória tais acontecimentos .
( Isto a propósito dos aniversários das estações de televisão , do nosso Portugal ... TVI , que já celebrou , para breve a RTP e depois será a SIC )
No decorrer dos anos de - fins de oitenta e cinco , oitenta e seis , e metade do ano de oitenta e sete - tive o privilégio de pertencer a um grupo de amigos , que desafiaram o monopólio televisivo existente na época ... ( RTP) . Sob a orientação de dois técnicos de electrónica que construíram um pequeno emissor de televisão , tendo eles próprios iniciado as primeiras emissões , que cobriam o bairro onde vivíamos .
Face às solicitações exteriores , foi preciso aumentar a potência do emissor e criar uma equipa de pessoas , que foram entrando gradualmente conforme as necessidades , onde a dada altura eu entrei , tal como outros ...
Este sonho cresceu , vivendo sempre na sombra , devido às inspecções radiotécnicas do estado . Quando se suponha que andavam próximos encerrava-se a emissão , deixando-os à toa . Quando eles desapareciam de cena , retomava-se a emissão . Assim foi meses a fio , na qual fomos aumentando em flecha o número de telespectadores . Por consequência , começamos a ser uma ameaça ao monopólio . A dada altura " eles " apareceram de surpresa , mas já tinha-mos um código combinado com os telespectadores , que face há ameaça foi colocado no ar , escusado será dizer que a população das redondezas compareceu em peso , num ápice . Creio que se não estou em erro , foi cerca de mil e quinhentas pessoas , que compareceram ao pedido de auxilio ...
Entretanto um dos colaboradores , em função da confusão gerada pela população , conseguiu fugir com o emissor e amplificador , para parte incerta . Os inspectores , devido às ameaças da população em fúria , receosos , acabaram por bater retirada , sem efectuar qualquer tipo de apreensão ...
Devido ao facto de " eles " já saberem a nossa localização , e porque as instalações eram tão pequenas ( uma pequena oficina de reparação de televisores e afins ) , mudamos de armas e bagagem para outras paragens . Daí retomá-mos as emissões com mais potência e mais qualidade . Tinhamos programação própria , noticias , directos com notáveis da sociedade , programas de entretenimento , publicidade ( que revertia a favor do pagamento do aluguer da casa onde se encontravam as instalações a compra de novos equipamentos e manutenção de outros ) . Enfim , em poucos meses ," mais de trezentos mil espectadores " , viam as nossas emissões regularmente , éramos uma alternativa à RTP . Isto há vinte e um anos ... Recordo-me como se fosse hoje , um rapaz dos seus catorze , quinze anos, ( hoje um dos maiores pivots do Jornal Nacional da ( TVI ), acompanhado do seu irmão , nos ia levar filmes , para pôr-mos no ar ...)
As emissões diárias duraram até que fomos de novo descobertos , e aí os inspectores já vinham acompanhados pela GNR . Já nada se podia fazer , foi tudo apreendido ... acabou-se o sonho .Esta televisão clandestina tinha um nome , " Televisão Regional de Loures " ( TRL ) .Tal como nós , muitas outras existiram na época , que acabaram da mesma forma ...
O que me deixa triste , é que foi devido à nossa existência , que a lei da Rádiotelevisão foi alterada e todas as estações de televisão que agora existem , a nós se deve . E nunca uma única vez que fosse , tiveram a dignidade de nos mencionar , nem um segundo que fosse .
O monopólio tornou a cair nas mãos de outro monopólio ... durante os anos seguintes !!!
Na época , impedidos foram , aqueles que tentaram legalizar , estações de televisão de cariz regional ... infelizmente ... .
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Quero aqui e agora , prestar a minha homenagem , a todos os companheiros do sonho , porque muito aprendi com eles ...
.

.................OBRIGADO MEUS AMIGOS ...
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Joaquim Pinto
Cordeiro
Tó Rodrigues
Carlos Pires
Zé Artur
Serafim
Pires
Rogério
Altamiro
Tó-Zé
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-  Edição de 01 março, 2007 -

 

« Amar um " filho " , sem ser pai ... »

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Continuação. .

.......................................( XI Parte ) .
..
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...Chico , ao ver o sucedido , apressou o andamento das mulas . Fosse lá quem fosse , decerto precisaria de ajuda , o tombo tinha sido grande ( pensou ele ) . A mulher não se mexia , mantinha-se na mesma posição desde que caíra . Chico conforme se aproximava , ia tendo a sensação de que aquela mulher lhe era familiar , começou a sentir o coração a acelerar , chicoteou as mulas , aumentando o ritmo do andamento . A pouco mais de três dezenas de metros reconheceu-a , era Vera , a mulher dos seus pensamentos . Chegado à ladeira que dá acesso à bica , estancou os animais abruptamente , saltando de seguida da carroça , e correu ladeira abaixo ao encontro dela .
Vera estava desmaiada , Chico aproximou o ouvido do coração dela , e ouviu-o a bater ... Vera estava toda molhada , em parte era da enfusa que se partira com a queda , mas na zona das pernas tinha outro tipo de molhado , um molhado esquisito , que lhe alertou os sentidos . Enquanto Chico pensava no que fazer , vinha chegando à ladeira Hipólito , no seu burrico , carregado de cântaros para encher de água . Deparando-se com tal cenário , correu ladeira abaixo na direcção de Chico e de Vera :
- Então o que se passa ? ( perguntou Hipólito , ofegante ) .
- A Vera caiu ao subir a ladeira , eu via cair ... Quando vinha lá em baixo , depois de passar os Choupos ,vindo do lado do Monte do Barranco , vi alguém a subir a ladeira e cair . Só vi que era ela , já aqui perto da vereda .( respondeu Chico , com a voz trémula ) .
- E agora o que fazemos ? ( perguntou Hipólito ) .
- Temos de a levar daqui ! Ajuda-me a levá-la para a carroça , que eu já sei o que fazer . ( disse Chico ) .
Os dois , com muito cuidado , pegaram na Vera e subiram a ladeira , colocaram-na na carroça . Chico , com meia dúzia de braçadas de pasto , que cortou com a foice , fez um camalho , colocando a sua própria camisa para proteger a Vera dos balanços da viagem , tudo isto feito numa correria , ajudado pelo amigo...
Entretanto , Chico fez um pedido , ao amigo Hipólito :
- Vais à do meu patrão , e contas o que se passou , para ele não ficar em cuidados , que eu vou para minha casa . ( pediu Chico , ao seu amigo ) .
- Fica descansado , que vou já para lá . ( disse-lhe o amigo , e assim fez ) .
Chico , enquanto se deslocava em direcção a casa , ia pensando , a sua mãe já tinha parido sete filhos , decerto que tinha experiência , e algo poderia fazer , para o ajudar nesta difícil tarefa , que o destino lhe tinha mais uma vez reservado .
Hipólito , tal como prometera ao seu amigo , acelerou passo ao burrico , e foi à do patrão Américo dar o recado . O patrão , um homem às direitas , e que tinha Chico como um filho , chamou a mulher :
- Zefa , Zefa ... ( bradou o patrão de Chico , pela sua mulher ) .
- Sim homem , que gritaria é essa !!??? ( perguntou a esposa , admirada ) .
O patrão Américo , pôs a mulher ao corrente dos acontecimentos , ao que acrescentou :
- Vai lá a casa dele ver se é preciso alguma coisa , e ajuda no que puderes . ( Disse o marido em jeito de pedido ) .
Dona Zefa sem nada dizer , foi para dentro de casa , ao mesmo tempo que ia tirando o avental , preparar-se para o que o marido lhe pedira ...
Entretanto , Chico , tomando caminho por atalhos , rápidamente chegou a casa . Estava a sua mãe a varrer a travessa junto ao portão do quintal , que por sinal estava aberto de par em par , quando chico entrou quintal a dentro com a carroça , tendo a sua mãe ficado admirada com a presença do seu filho ali aquelas horas , e com cara de que alguma coisa tinha acontecido . Chico no interior do quintal , deu a volta à carroça recuando até ao alpendre , depois bradou à mãe pedindo ajuda , como se ela tivesse a milhas . Dona Anacleta assustada , correu em seu auxilio , enquanto Chico tirava o resguardo traseiro da carroça , a sua mãe subia as escaleiras , o mais depressa que podia .
Vera , com os tombos da viajem , já tinha recuperado os sentidos , o seu rosto estava desfigurado , e gemia de dor ...
A mãe de Chico , quando olhou para o interior da carroça ficou de boca aberta!
Sem demoras , e enquanto pegava com muito cuidado na Vera ao colo , Chico ia dizendo à mãe o que tinha acontecido . Dona Anacleta antevendo o que se iria passar , disse ao filho para a levar para o quarto dela , porque a cama era maior e porque iriam necessitar de espaço .
Por sorte , os irmãos mais novos , estavam em casa da vizinha Maria João , de brincadeira com os filhos dela , também ela , tinha parido à pouco tempo , e fazia trabalhos de costura para fora com a Beatriz , a irmã de Chico ...
Pouco depois , chegou a dona Zefa , preparada para ajudar . Depois de uma análise efectuada pela mãe e pela patroa de Chico , ambas chegaram a conclusão que as águas tinham rebentado , e que Vera tinha que parir quanto antes . Dona Anecleta , mandou o Chico chamar a irmã a casa da vizinha , porque toda a ajuda seria pouca . Assim que chegaram , a mãe disse ao Chico para atiçar o lume e pôr mais lenha , com os caldeirões maiores cheios de água , para ferver , ao mesmo tempo pediu à filha Beatriz , para cortar dois ou três lençóis aos pedaços e para pôr dentro de um dos caldeirões , para desinfectar . Do quarto ouviam-se os gritos de dor , Chico começava a ficar nervoso ... Já eram horas de almoço , andavam todos numa labuta desenfreada , quando chegou o irmão João para almoçar ( João um ano mais novo que Beatriz , andava a aprender a arte de ferreiro com o primo Afonso , e ia todos os dias almoçar a casa ) , quando se deparou com todo este aparato ... Beatriz , chamou o Chico , alertando-o de que se devia avisar a família da Vera , Chico concordou . Depois de explicarem ao irmão João o que se passava , pediram que ele fosse a casa dos pais de Vera dar a noticia , mas para não ser alarmista ... João acenou com a cabeça que sim , e abalou correndo ... Depois de dar a noticia , à mãe de Vera , João foi para casa do primo Afonso , onde também colocou os primos a par dos acontecimentos e almoçou com eles ...
A água já fervia e rapidamente iniciaram os trabalhos , era panos quentes era água quente , enfim era uma corrida contra o tempo .
Nervosissima dona Filomena , chegou a casa de Chico , os gritos de dor , ouviam-se na rua .
Chico no alpendre , andava de um lado para outro nervoso , e sempre que ouvia os gritos de dor da sua amada , cerrava os punhos como se senti-se também a dor . Os minutos pareciam horas ... Chico tentou entrar no quarto , para ver o que se passava , mas foi corrido de imediato pela irmã , alegando que aquilo era trabalho de mulheres , ele voltou novamente para o alpendre , e recomeçou a marcha de um lado para outro ... Os gritos , os gritos deixavam-no louco , não sabia o que fazer , descia as escaleiras , e ia até ao portão , voltava novamente a subir para o alpendre . Lá dentro ouvia a pedirem , mais panos , mais água ... mais gritos ... O tempo continuava a passar ...
Até que se fez silêncio , ele estancou automaticamente , como se o coração tivesse parado . O silêncio demorou eternos segundos .
De repente ouviu-se um choro , sim era um choro , era um choro tenro ...


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.Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência
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Moinante = A.J.S.B.
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Continua brevemente ..


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